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23 de outubro de 2014

Todo Dia de David Levithan


Eu passei um tempinho pensando em qual seria meu próximo ato no Retrograde, e acho que acabei demorando por demais. Acabei passando mal poucos dias atrás, e fui parar no hospital, porque não estava aguentando mais a dor: eu não sabia se gritava ou chorava, porque já estava ficando insuportável, e eu não me dou muito bem com a dor. Só queria que parasse, e se parar significasse a morte naquele momento, tenho que admitir, me chamem de fraco, mas pedi para morrer. De qualquer forma, resolvi trazer hoje um textinho sobre o livro Todo Dia, de David Levithan, que de longe é um dos meus livros preferidos, e recomendar ele aqui para quem estiver aberto para novas leituras. :)

 

Li Todo Dia em março de 2014, e de todos os livros que me marcaram, ou que me ajudaram de alguma forma, este com certeza é o primeiro da lista. De cara, somos apresentados à "A". Simples assim. "A" não é uma pessoa, não exatamente. Todos os dias, "A" acorda no corpo de uma pessoa diferente, e ele não sabe o porque ou como parar isso. E por mais que isso seja apavorante de se pensar, uma pessoa vivendo dentro de você por um dia, assumindo o seu corpo enquanto você assiste a tudo sem saber de nada? Mas acredite, também é difícil para "A" não ser todos, mas também não ser ninguém. "A" aprendeu a viver sozinho, e a tentar não mudar a vida de ninguém que ele está "possuindo" por um dia, e com isso ele segue em frente, passando por despercebido aos olhos de todos. "A", no tempo do livro, tem 16 anos: ele está no corpo de alguém que tem sua idade, não é simplesmente pular de 10 para 82, é apenas 16, e como qualquer outro adolescente, "A" tem seus problemas, tem seus momentos de fraqueza, tem suas crises de existência, e, principalmente, "A" também ama. Mas ele sabe que não pode amar, porque hoje ele pode estar com alguém que aprendeu a gostar, mas amanhã está a muitos quilômetros de distância. O livro nos leva a vários cenários, vários tipos de família, desde as mais "normais" até as mais "destroçadas", suicidas, viciados em drogas, garotas más, e até mesmo um casal gay brasileiro. "A" não tem sexo, e ele aprendeu a amar as pessoas sem se importar muito com isso: hoje ele é homem, mas amanhã pode ser uma mulher. Das coisas que mais me cativaram no livro, foi que o autor (e o "A") apresentaram, em todo o livro, a diferença entre corpo e mente. O corpo é tão forte quanto a mente, e também tem suas necessidades, e se você se render ao corpo, é bem provável que ele te destrua. De mesma forma, não importa o corpo que você assume, mas quem você é, tudo o que importa é sempre quem você é.

"O tempo segue. O universo se expande." (Pg. 276)
"É a vida, o contexto do corpo, que se pode ser difícil de entender." (Pg. 07)
"Todos nós temos mistérios, especialmente quando vistos pelo lado de dentro." (Pg. 08)
"Depois de algum tempo é preciso aceitar o fato de que você simplesmente existe. Não há meio de saber o porquê. Você pode ter algumas teorias, mas nunca haverá uma prova." (Pg. 08)
"Sou um andarilho e, por mais solitário que isso possa ser, também é uma tremenda libertação. Nunca vou me definir sob os mesmos critérios das outras pessoas. Nunca vou sentir a pressão dos amigos ou o fardo das expectativas dos pais. Posso considerar todo mundo parte de um todo, e me concentrar no todo, não nas partes. Aprendi a observar, muito melhor do que a maioria das pessoas faz. O passado não me ofusca, nem o futuro me motiva. Concentro-me no presente, porque é nele que estou destinado a viver." (Pg. 12)